A
década de 1970 foi marcada por uma profunda crise econômica. Muitos economistas
caracterizam este período como o período de término de um padrão de acumulação
do capital, fim do fordismo/taylorismo, ou o esgotamento do pós-guerra, ou até,
fim do keynesianismo. As crises, diga-se de passagem, são inerentes ao próprio
modo de ser do capitalismo, e se expressam principalmente na redução das taxas
de lucro. Deste modo, é impossível falar de capitalismo sem falar em suas crises
cíclicas. Após 1970, extinguisse, portanto, um período de crescimento econômico
e de conquistas dos trabalhadores nos países centrais, isto é, Europa ocidental
e, com muito menos intensidade nos EUA – período muitas vezes referenciado como
“anos glorioso” ou “era dourada”, ou como a maioria gosta de chamar: o Estado de
bem-estar social (este restrito na Europa), iniciado no pós Segunda Grande Guerra.
O capitalismo sofreu, em consequência dessa crise, muitas modificações em sua
composição e, em outros vários sentidos, como a reestruturação produtiva de maneira
global. Em momentos de crise é necessário, para o capital, dar “respostas” aos
seus entraves, tanto na esfera econômica quanto na esfera política. Nos anos 40
do século passado, o austríaco Hayek já vinha formulando suas ideias econômicas
“liberais” e “anti-intervenção estatal” (o intuito claro de Hayek era atingir o
Partido Trabalhista inglês, antes das eleições de 1945), somente nos anos 70 tornaram-se
adequadas. Seus adeptos como o Sr. Friedman, Ludwig Von Mises, Karl Popper,
Lionel Robbins, entre outros, trataram de difundi-las. A teoria dos entusiastas
contra o Estado intervencionista foi a “resposta” econômica e política dada à
crise, e ficou conhecida como neoliberalismo.
Este “novo liberalismo” nada tem
a ver com o liberalismo clássico de Smith e Ricardo, vale ressaltar. Ele é (sem
dúvidas) uma ideologia que se tornou hegemônica pelo mundo, iniciado com a
experiência prática no Chile com o golpe de Pinochet em 1973, passando para outros
países Latino Americanos, cada qual com seu modo particular, é bem verdade. Na
Inglaterra coube à Dona Thatcher e, nos EUA, ao presidente Reagan a implementação
desta política econômica neoliberal.
No
Brasil, já no governo Collor haviam tendências neste sentido, mas foi com Fernando
Henrique Cardoso que as medidas neoliberais foram implementadas com todo vigor
(também conhecida como a contra reforma do Estado). Em suma, sua política de “retomada
do crescimento/desenvolvimento” consistia: na diminuição do processo
inflacionário; processo de privatizações das estatais (a preço de banana); redução
dos conflitos com os sindicatos – ou fim luta pela reposição dos salários –,
assim, redução salarial e flexibilização dos mercados, sobretudo do mercado de
trabalho; e fim dos déficits públicos "oriundos dos gastos sociais" (mas não da dívida), o que tinham o intuito de retomar os patamares das taxas de lucro. Mas este modelo neoliberal
não conseguiu atingir níveis de crescimento desejados, especialmente quando comparados
aos dos “anos gloriosos”, e ainda, embora com algum pouco crescimento da economia,
não foi possível reduzir as taxas de desemprego, pelo contrário, elas aumentaram.
Porém, no governo de Lula que se acaba com o neoliberalismo... Opa! Pegadinha, yeah
yeah! Achou mesmo que era isso que iria
acontecer? Pois então, é no governo Lula que se tem uma continuidade e acirramento
das contradições do neoliberalismo no Brasil.
O presidente “surfou” numa onda expansiva
do capitalismo global, um curto período do em seu primeiro mandato, o que permitiu
destinar alguns recursos aos programas sociais e expandir a universidade pública,
por exemplo. Cessada essa onda de crescimento externo, os recursos do Estado devem-se
ser destinados ao grande capital, principalmente ao financeiro (o termo preciso
seria capital fictício).
Com Dilma não é diferente. Quando um remédio receitado não causa o efeito esperado
(de cura ou redução dos sintomas), mas apenas seus efeitos colaterais, espera-se
que o médico suspenda o uso e receite outro medicamento mais eficaz, pois a
utilização prolongada daquele medicamento que não funciona só agrava os efeitos
indesejados. Contudo, isso pode servir para a medicina, mas não para a economia
capitalista, muito menos à política brasileira – basta averiguar o ajuste do
atual governo.